Carta Aberta à População
A Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP), representando seus associados, gostaria de informar sobre os ditames que regem a boa prática psiquiátrica, definindo as diretrizes éticas, legais e científicas que devem nortear o trabalho médico psiquiátrico, cujo conhecimento é fundamental para que os pacientes e seus familiares possam reconhecer o profissional habilitado e competente.
Primeiramente é importantíssimo que o paciente e seus familiares procurem saber se o médico dispõe dos títulos e registros adequados. Para que possa atuar como Psiquiatra ou Especialista em Psiquiatria é necessário que tenha cursado Residência Médica em instituição reconhecida pelo Ministério da Educação, ou obtenha o Título de Especialista da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Associação Médica Brasileira (AMB), e que em seguida registre-se como especialista no Conselho Regional de Medicina (CRM).
A boa prática médica depende de compromisso com métodos científicos, executar estratégias diagnósticas e terapêuticas apropriadas para manutenção da vida, utilizando os princípios da medicina baseada em evidências, com tratamentos pesquisados e comprovados cientificamente. Depende da compreensão e do bom relacionamento com o paciente e os familiares, respeitando-se a diversidade cultural, crenças e autonomia. O Médico Psiquiatra deve continuar estudando e desenvolvendo o conhecimento científico, e fornecer informações relevantes ao paciente e seus familiares. Precisa compreender e respeitar, para a tomada de decisões, os aspectos morais, éticos, legais e profissionais envolvidos, e inerentes à profissão. Deve demonstrar valores que incluem a busca da excelência, o altruísmo, a responsabilidade, a empatia, disponibilidade de prestar atendimento, honestidade e integridade. O Médico Psiquiatra competente aprimora continuamente seus conhecimentos e usa o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
A Psiquiatria, ciência médica, quando aplicada de acordo com as diretrizes éticas, técnicas e legais, é grande aliada da humanidade no sentido de diminuir o sofrimento provocado pelas doenças e transtornos mentais, e que tem na Associação Catarinense de Psiquiatria a organização de classe disponível para, e capaz de orientar e dirimir as dúvidas da população quanto à sua boa prática e condução adequada.
Atenciosamente,
Fábio Firmino Lopes
Presidente da ACP - Gestão 2005-2007
A Psiquiatria e a Dependência Química
O título deste artigo foi, há algumas semanas, tema de entrevista no programa de rádio de Danilo Gomes. O tema tem sido escolhido como pauta para inúmeras conversas informais e relatos técnicos, bem como tratado nas mesas de planejamento dos serviços de assistência à saúde pública. Não o é por outra razão que não o crescimento vertiginoso dos números relacionados à dependência química no nosso país.
Recentemente nos defrontamos com uma realidade alarmante. Os danos e os custos provocados pelo uso e abuso de substâncias psicoativas (SPA) cresce sem precedentes. Comprova-se isso quando se observa o impacto familiar, os problemas de saúde, as faltas ao trabalho, os acidentes, a violência e as transgressões, e a cronicidade do problema que, normalmente, demanda um tempo considerável para tratamento efetivo e se estende por anos para uma recuperação completa. Hoje a Psiquiatria trata a dependência química usando um modelo saúde-doença, tenta não aplicar conceitos morais ou legais à questão. A ciência demonstrou que existe substrato neurobiológico, existem fatores que predispõe o indivíduo a desenvolver uso compulsivo de SPA e também comportamentos compulsivos como o Jogo Patológico, determinou o mecanismo de ação de tais substâncias no sistema nervoso central, o que nos permite entender e tratar a doença com métodos mais efetivos.
Já na prevenção e combate ao uso de drogas não muito se fez até os dias atuais. Sabe-se que onde a oferta de drogas (entre elas o álcool e o tabaco) é maior, o consumo também o é. Precisamos estabelecer mecanismos de controle efetivos, eliminar a corrupção que facilita o tráfico, melhorar as condições sociais e financeiras do nosso povo (melhora da estrutura familiar e oferta de oportunidades saudáveis), educar os jovens sobre a questão das drogas. Precisamos nos movimentar para diminuir os riscos.
Dr. Juliano Fonseca Tonello
Médico Psiquiatra CRM 8709
Depressão, Mito ou Doença? |
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Informações para paciente e familiares. | |
Atualmente fala-se em depressão enfocando vários aspectos diferenciados, o leigo chama de depressão o mau humor eventual, alguns chamam de depressão uma reação de ajustamento a determinada crise na vida, os namorados se deprimem quando brigam. Isso é de fato depressão? Do ponto de vista da Psiquiatria não é tão simples. O Que é Depressão É uma doença de impacto, que traz muitos prejuízos à vida do paciente e que normalmente se apresenta com alterações de humor como tristeza, ansiedade e irritabilidade, pensamento negativista com idéias de ruína e de fracasso, sensação de que nada funcionará, de que os familiares e os amigos os sentem como um peso, falta de energia e disposição para as tarefas do dia-a-dia e trabalho, alterações do sono e apetite, dificuldade de memória e raciocínio, diminuição do desejo sexual, atividades de lazer já não lhe atraem mais e, algumas vezes, queixas somáticas como dores de cabeça e dores pelo corpo, entre outros. Esses sintomas se apresentam em diversas gravidades e podem se estender por anos quando não tratados. As Causas A depressão é um a doença multicausal, vários fatores contribuem para a sua instalação, e frequentemente mais de um é necessário para que se instale o quadro. Dentre eles os mais importantes são os fatores genéticos, biológicos e ambientais. Os fatores genéticos são a herança familiar de defeitos em genes (o DNA), que podem ou não se manifestar durante a vida da pessoa. Alguns têm predisposição mas não desenvolvem a doença. Os fatores biológicos principais são os desequilíbrios em neurotransmissores (substâncias químicas que transmitem as mensagens entre os neurônios), principalmente a serotonina, dopamina e noradrenalina. Já os fatores ambientais como níveis elevados e contínuos de stress, predispõe à depressão. A competitividade, o sedentarismo, as dificuldades financeiras, os problemas familiares, o ritmo de vida dos dias atuais são muito desgastantes, e podem provocar muitas doenças, entre elas a depressão. Como Reconhecer Quando alguém desenvolve sintomas como os descritos acima, por um período prolongado, e apresenta déficit em áreas como laboral, familiar, acadêmica e social, deve procurar um serviço de saúde habilitado para avaliar a situação e, se for o caso, encaminhar o paciente para uma equipe especializada em saúde mental. Quanto mais cedo a depressão for tratada, maiores serão as chances de sucesso no tratamento. Tratamentos Hoje existe uma série de tratamentos comprovadamente eficazes no manejo da depressão. Os medicamentos antidepressivos têm grande eficácia e, aliados ao tratamento psicoterápico demonstram altas taxas de resolução dos episódios depressivos agudos, e protegem o paciente de novos episódios. É muito importante que os pacientes sigam as orientaçãoes de seus médicos psiquiatras quanto às doses e duração do tratamento antidepressivo, pois isso pode assegurar uma boa evolução da doença. Condutas para Pacientes e Familiares O primeiro e mais importante passo é conhecer melhor a doença. Procure informar-se, pergunte ao seu médico, leia livros e revistas idôneos, converse com quem já teve a doença e com a equipe de saúde que lhe atende, a informação lhe ajudará a seguir o caminho correto. Quanto ao paciente, é preciso ter em mente que a doença tem tratamento, não tome decisões importantes enquanto estiver deprimido. Não determine grandes objetivos nem cobre desempenho nessa fase, tenha paciência para melhorar. Mantenha alguma atividade de lazer ou física leve, como distração, sem esforço demasiado. Para a família é importante entender que a depressão não é uma doença da vontade ou do caráter, a pessoa não está doente porque quer (quando se fala em depressão). Cobranças do tipo “você tem que se ajudar”, “você é um fraco, um incapaz” apenas pioram o quadro, fazendo o doente sentir-se mais culpado e confirmando o seu pensamento influenciado pela doença. A família deve auxiliar marcando as consultas e levando o paciente ao médico, incentivá-lo a continuar o tratamento, verificar a tomada dos remédios, mostrar compreensão e paciência, ouvir. Também de grande importância é estar atento a situações de risco como o suicídio. Referência a idéias de morte ou idéias suicidas devem ser sempre levadas a sério e imediatamente comunicadas ao médico. |
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Autor: Juliano Fonseca Tonello - Médico Psiquiatra |